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BIOGRAFIA DE MARITA DEEKE SASSE (1937–1980) por Suzana Sedrez

Marita Deeke Sasse nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, em 22 de novembro de 1937, residindo em Blumenau de 1947 a 1998. Realizou seus estudos no Colégio Pedro II em Blumenau. Em 1971, licenciou-se em Letras pela Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB. Com opção em Literatura Brasileira, obteve seu grau de Mestre em 1980, pela Universidade Federal de Santa Catarina, estudando o escritor catarinense Virgílio Várzea. Concluiu doutorado em 1993 junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a tese “Mulheres no espelho - aspectos da narrativa de autoria feminina". 

Marita afirma, a partir de Jung e Lacan, que a simbologia do espelho evoca a instauração da identidade. Capta, na narrativa das mulheres-autoras que analisa, a imagem do espelho como revelação de verdades existenciais. Pondera que na simbologia do espelho estariam não só a representação de sentimentos ambivalentes, como também um convite para penetrar além de nós mesmos. Segundo Marita, esse movimento resulta na auto-análise e opera a “tomada de consciência da [...] totalidade ou a fuga da fragmentação” (SASSE, 1993, p. 186). Conclui na sua tese que “todo discurso é espelho de seu próprio autor” (SASSE, 1993, p. 182).

Marita Deeke Sasse inicia sua prática de Magistério em 1967, na cidade de Blumenau. Lecionou até 1982 na Escola Barão do Rio Branco, no Conjunto Educacional Pedro II e no Colégio Franciscano Santo Antônio atuando na área de Língua e Literatura Portuguesa. Por quinze anos, a partir de 1983, regeu a cátedra de português e Literatura Portuguesa e Teoria Literária na FURB.

Interessou-se por temas como mitologia, simbologia, ritos, folclore, regionalismo, cultura, psicanálise entre outros. Em seus escritos, estabeleceu relações entre filosofia, antropologia e literatura inspirada por um eixo poético. Possui diversos contos e ensaios publicados em jornais e revistas literárias, além de livros infantis. Alguns de seus títulos:
• Blumenau, sua História. Florianópolis: Lunardeli, 1980
• Uma família feliz. Florianópolis: LADESC, 1986.
• Oktoberfest – A festa da cerveja. Rio de Janeiro: Ultraset, 1991.
• A Poética do Mito (Org.) Blumenau: Letra Viva, 1995.
• Entre o Leão e o Unicórnio. Blumenau: Hec Publicações, 1998 (?).

Marita Deeke Sasse obteve os seguintes Prêmios literários:
• Prêmio Álvaro Moreyra – 4º. lugar, Concurso Nacional de Contos – 1965
• Concurso Estadual de Biografias do Departamento de Cultura da Secretaria do Governo – 2º. Lugar, 1971
• Concurso Estadual de Conto – Prêmio Virgílio Várzea – Menção Honrosa, 1978
• II Concurso de Histórias – LADESC – Governo do Estado de Santa Catarina - 1985

Destacando as contribuições da minha patronesse, proponho que este momento da Academia possa espelhar uma vontade coletiva em fazermos parte de um grupo que pensa sobre as idéias e os valores de sua época, e que por isto pode contribuir com a socialização dos bens culturais da nossa região, objetivando a consolidação de ações voltadas à cidadania.

REFERÊNCIAS

JAMUNDÁ, Theobaldo (Org.). Contos e poemas. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1980.
SASSE, Marita Deeke. Oktoberfest – A festa da cerveja. Rio de Janeiro: Ultraset, 1991.
______. Mulheres no espelho - aspectos da narrativa de autoria feminina. Rio de Janeiro: 1993. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) – Faculdade de Letras, UFRJ.




FRITZ MULLER

Digníssimas autoridades já citadas pelo cerimonial, ilustres convidados, nobres acadêmicos, colegas neófitos que comigo partilham deste momento mágico e solene em que somos admitidos no seio desta ilustre instituição cultural, senhoras e senhores, boa noite.

Brindou-me o destino, através da ação dos agora colegas acadêmicos, com a honra de ter como patrono, Fritz Muller. Aquele cuja obra, nas palavras de Roquette Pinto, pela sua originalidade e alcance filosófico, pela repercussão que teve, é um dos maiores monumentos científicos criados na América do Sul.

Johan Friedrich Theodor Mueller nasceu em 31 de março de 1822 na Alemanha. Faleceu em 21 de maio de 1897, aos 75 anos em Blumenau. Filho de um pastor e uma dona de casa, foi o mais velho de cinco irmãos. Tanto da parte de pai, como da mãe a família era talentosa nas ciências, sendo formada por inúmeros intelectuais.

Em 1841 matriculou-se na Universidade de Berlim onde se dedicou especialmente à matemática e à história natural. Seu raro talento para o desenho já chamava a atenção.

Em 14 de dezembro de 1844, aos 22 anos de idade, obtinha o grau de Doutor em Filosofia com a tese "Sobre as sanguessugas da região de Berlim".

De acordo com Cezar Zillig, sem ter grande simpatia pela Medicina, Fritz Müller resolveu estuda-la. Tencionava ser médico de bordo a assim realizar seu sonho de conhecer terras distantes e ver como a natureza nos trópicos se apresentava. Jamais recebeu seu diploma de medicina por negar-se a fazer um juramento, que julgava falso, por conter conteúdo religioso incompatível com suas convicções.

Em 1848, aos 26 anos, veio a encontrar a que seria a companheira de sua existência Karoline Tüller, oficializando sua união no ano seguinte.

Conheceu Dr Blumenau na casa de seu tio. Como Dr Blumenau era um entusiasta do Brasil, convenceu Fritz Muller a vir ao nosso país e não ao Chile como tencionava.

Em 17 de maio de 1852, com 30 anos de idade, embarca, com seu irmão August, a bordo do Florentin para São Francisco do Sul. Viveu 11 anos em Desterro e 34 em Blumenau.

Ainda, de acordo com Roquette Pinto a relação de trabalhos científicos de Fritz Muller, publicados de 1844 até 1899, portanto dois anos após o seu falecimento conta com 248 memórias ou monografias, faltando noticias de mais 11 originais até hoje perdidos. Gozava de grande reputação entre a comunidade científica da época principalmente após a publicação de sua obra Pró Darwin.

Com este trabalho Fritz Muller mostrou que o desenvolvimento embriológico individual representa uma curta e rápida recapitulação do desenvolvimento histórico das raças, apresentando uma prova concreta das concepções da teoria da evolução das espécies através do mecanismo de seleção natural de Charles Darwin. Fritz Muller realizou suas pesquisas com larvas de crustáceos colhidos na costa catarinense.

Com Darwin estabeleceu forte relação científica, através da troca de correspondência.

Peço permissão à Fritz Muller para, usando da liberdade de criação dos escritores, afirmar que encontro uma similaridade entre nossas existências. Não nascemos em Blumenau, mas é aqui e daqui que construímos nossas carreiras. Ele como naturalista e eu como oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.

Por isso, rogo ao Grande Arquiteto do Universo, Autor de todas as coisas que me ilumine para que possa honrar o nome de Fritz Muller e a cultura através das letras.

Obrigado a todos!


Referências:

PINTO, Edgar Roquette (et. alli). Fritz Müller: reflexões biográficas. Blumenau: Cultura em Movimento, 2000.
ZILLIG, Cezar. Fritz Muller, meu irmão. Blumenau: Cultura em movimento.




LINDOLF BELL

Lindolf Bell é atualmente o maior, o mais constante e importante nome da poesia catarinense, assim levantou-se a bandeira “como uma palavra tribal” em prol de sua memória, transformando seu sonho em realidade, buscando cada vez mais fazer com que o

Lindolf Bell, filho de Theodoro e Amália Bell, nasceu na cidade de Timbó em 2 de novembro de 1938. Foi de seus pais que herdou a clareza dos poemas, os quais mesmo sendo produzidos na urbanidade, conservaram elementos da vida agrária. Os pais do poeta eram lavradores, porém, com um grande sentimento e conhecimento de mundo, o que definitivamente ficou enraizado em sua vida e obras.

Em 1944, sua mãe iniciou sua alfabetização em alemão. De 1945 a 1952 estudou em sua terra natal Em 1953, matriculou-se no Curso Técnico em Contabilidade de Blumenau, concluído em 1955. Voltou a Timbó. Em 1958, serviu à Polícia do Exército. Em 1959, no Rio de Janeiro (RJ), estudou Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, curso que não completou. No ano seguinte, retorna a Timbó. Em 1962, iniciou seus estudos no Curso de Dramaturgia na Escola de Arte Dramática de São Paulo, no qual se formou em 1964.

Ao ser líder do Movimento Catequese Poética, o qual permitiu a milhares de pessoas o acesso à poesia e à arte, Lindolf Bell foi reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Era um homem que abrigava o mundo no coração, que amava os girassóis, que via tudo como missão, encarando a palavra como uma dádiva e fazendo dela um instrumento de comunhão e solidariedade.

Bell casou-se com Elke Hering (reconhecida artista plástica), com a qual teve 3 (três) filhos: Pedro, Rafaela e Eduardo Bell.

Após difundir seu movimento pelo Brasil e exterior, fixou moradia na cidade de Blumenau, onde, juntamente com a esposa Elke Hering e os amigos Péricles e Arminda Prade, criou a Galeria Açu-Açu (primeira do Estado de Santa Catarina). Além destas atividades, Bell também foi contador, professor, crítico de artes, conselheiro estadual da cultura do Estado de Santa Catarina e marchand (promotor de eventos relacionados à arte).

Foi um nome ligado à invenção lógica, à ousadia, à uma capacidade mágica. Seguindo seus impulsos rompeu as amarras que prendiam a poesia, tornando e exigindo o contato direto com o leitor. Bell também difundiu suas idéias através de painéis-poemas, corpoemas...

Se o ofício do poeta é redescobrir a palavra, como dizia o autor de As Vivências Elementares, nosso ofício é o de redescobrir o poeta, através de suas palavras, tais como aquelas presentes na Metafísica Cotidiana: procuro a palavra-palavra a palavra fóssil, a palavra antes da palavra”. Esse impulso rumo às origens nos torna mais sensíveis e profundos.

Publicou seu primeiro livro de poesia, Os Póstumos e as Profecias, em 1962. Participou de diversos eventos: na Expressão de Novos Poetas, com poemas-murais, na biblioteca paulistana Mário de Andrade; do Movimento da Catequese Poética; foi autor do roteiro cinematográfico A Deriva para o filme experimental de Juan Seringo; declamou poemas no Show Contra, no Teatro Ruth Escobar, São Paulo SP. Em 1968, viajou para os Estados Unidos, onde integrou o grupo brasileiro no International Writing Program, na Universidade de Iowa. No seu retorno, passou a viver em Blumenau, onde foi professor de História da Arte na Fundação Universidade Regional. Participou na I Pré-Bienal de São Paulo, em 1970, com poemas-objetos.

Bell amava a terra e tudo o que dela advinha. Mergulhando no drama da humanidade; a sua poesia mantinha-se vibrante. Tratava sempre da vida, da terra, da infância, do destino, da solidão, do efêmero, do transcendente, do sonho e da esperança.

Em uma entrevista do poeta à FCC (Fundação Cultural Catarinense), quando questionado sobre algo de sua residência, o mesmo respondeu:

“Todas as coisas que me rodeiam são raízes. A jabuticabeira que deve ter quase cem anos, a caramboleira, os baús, os móveis e todos os objetos antigos não são uma forma triste de memória mas uma afirmação de que, num crescimento espiritual, num crescimento humano não podemos jogar nada pela janela ou no lixo. Não podemos jogar fora as raízes - elas nos preservam e elas se preservam conosco, na memória ou dentro da terra, seja onde for, mas elas também nos projetam porque, à medida que elas se preservam na terra, elas crescem fazem a gente crescer, como uma árvore. O homem é uma árvore que abriga amores, lembranças, outros seres, uma árvore que dá sombra e luz, e é para isso que a gente nasceu, fundamentalmente. Isso eu aprendi, é claro convivendo com meus pais e também com os vizinhos, que tinham maneiras semelhantes de viver e conviver, maneiras simples mas definitivas.”

Em 10 de dezembro de 1998 veio a falecer.
Ficamos entristecidos depois de sua partida, o que apenas completava o que sempre dizia: Quanto mais sozinhos menos inteiros. Só nos bastamos na proximidade, em bando. E o bando sem ele é muito pouco.

"Mas um poeta não morre; pois a vida dos poetas é eterna. Bell colocou um pouco dela em cada palavra que escreveu e, embora seu corpo tenha ido, sua vida continuará espalhada eternamente pelas páginas dos livros que abrigam sua obra, na magia de suas palavras e pelo legado cultural que nos deixou".

OBRAS:

Os Póstumos e as Profecias. São Paulo: Massao Ohno, 1962.
Os Ciclos. São Paulo: Massao Ohno, 1964
Convocação. São Paulo: Brasil, 1965.
Curta Primavera. São Paulo: Brusco, 1966.
Tarefa. São Paulo: Papyrus, 1966.
Antologia Poética de Lindolf Bell. São Paulo: União, 1967.
Antologia da Catequese Poética. T. Paulista. São Paulo, 1968.
As Annamárias. São Paulo: Massao Ohno, 1971.
Incorporação. São Paulo: Quiron, 1974.
As Vivências Elementares. São Paulo: Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1980.
O Código das Águas. São Paulo: Global, 1984.
Setenário. Florianópolis: Sanfona, 1985.
Texto e Imagem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1987.
Pré-textos para um fio de esperança. BADESC. Florianópolis, 1994.
Iconographia. Editora Paralelo: 1993.
Requiem. Oficinas de Arte. Florianópolis, 1994.

Obras traduzidas:

Italiano:
Poesia de Brasile d’Oggi (trav. Salvatore d’Anna) editrice i.l.a. Palma, 1968.

Belga:
Revista “Nieeuw Vlamams Tijdschrift” (trad. Freddy de Vree), Antuérpia, 1969.

Inglês:
Revista “Licor Store”, Iowa USA, 1969 in Brazilian Poets XX Century (trad. Elizabeth Bishop);

Antologia da Poesia Contemporânea Brasileira (trad. José Neinstein), 1973.

Espanhol:
Tiempo de Poesia Brasileña (trad. Adovaldo Fernandes Sampaio) Buenos Aires, Ediciones de la Flor, 1974.

Angola:
Poemas editados na revista MÁKUA nº 4.

Prêmios recebidos:
Prêmio Governador do Estado, em 1983, São Paulo.
Prêmio de Poesia, pelo livro Código das Águas, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1984, São Paulo.






GERTRUD WALLI TONY HERING

Gertrud Walli Tony Hering nasceu na cidade de Dresden – Alemanha, em 06.05.1879. Seus pais, Hermann e Minna Hering emigraram para a cidade de Blumenau quando ela tinha apenas um ano de idade, e aqui viveu praticamente toda a sua vida. 
A família Hering cultivava o gosto pela literatura e recebia constantemente da Alemanha livros, revistas e jornais, principalmente por influência de Bruno, tio de Gertrud e grande amante da literatura. Este tio e também o mestre Fritz Müller, que teve como professor, influenciaram de grande maneira a jovem sonhadora, que com apenas dez anos já escrevia poesias, pequenos contos e peças de teatro. 
Gertrud viajou quatro vezes para a Alemanha – 1901, 1929, 1936 e 1952, viagens que certamente enriqueceram tanto suas experiência de vida quanto seus conhecimentos sobre as condições políticas e sociais da Alemanha e proporcionaram à escritora a ampliação de seu universo sensorial, literário, musical e pictórico. Suas obras estão impregnadas de uma mistura de vários componentes artísticos e históricos. Casou-se em 1906 com Richard Gross, que além de industriário era também músico. 
Publicou seu primeiro romance em 1913, num jornal local e continuou produzindo regularmente até a década de sessenta, sempre em língua alemã. De sua obra fazem parte romances, contos, poemas e peças teatrais e seu tema recorrente é a imigração. 
Faleceu em Blumenau em 07 de março de 1968, aos 89 anos. 



Cadeira XIII - Patrono de Ivo Hadlich



PASTOR HERMANN FAULHABER

O patrono desta cadeira na A.L.B. o pastor luterano Hermann Faulhaber, nasceu em 28 de abril de 1863 na província de Posen, Alemanha.
Conta-se que Faulhaber, doutorado em teologia, seguiu para Blumenau e só depois que embarcou no barco é que mandou pedir licença aos pais, pois acreditava que se o fizera antes os pais não o deixariam embarcar.

Chegou a Blumenau como pastor para colônia de Dr. Hermann Otto Bruno Blumenau em 1º de dezembro de 1889, estando aqui dedicando-se a assistência espiritual aos luteranos na grande maioria agricultores, participando ativamente da vida da comunidade em 1890 convocou uma assembléia para pedir autorização para a realização de uma sede Evangélica em Blumenau, para ter êxito nesta missão em 1891 viajou a colônia Dona Francisca.

Lutou muito por melhorias na igreja local, Faulhaber conseguiu a substituição dos velhos bancos incômodos, por novos. A parte superior da escadaria em frente à Igreja, foi igualmente iniciativa sua. Em 1893 tratou-se da medição da propriedade da comunidade, no vale do Ribeirão Fresco, de 2360 hectares, sendo digno de nota que o engenheiro Hercílio Luz, então chefe da agência de terras fez a medição gratuitamente, dispensando sua parte na medição. Na execução do seu programa de dar amparo às comunidades do Interior, providenciou a construção da Igreja da Itoupava Central. Estendeu a sua jurisdição até Luiz Alves, onde em um domingo do ano, realizava um culto idem para Massaranduba, tendo a comunidade de Blumenau financiado, ainda a compra de um terreno perto da foz do Ribeirão 13 de maio para a Escola, Igreja e cemitério e auxiliado na construção do respectivo prédio. Relacionava-se com pessoas influentes da época como Lauro Muller, Tenente Brasil Renaux, Major Gaelzer Neto e o Governador Pereira de Oliveira eram seus grandes amigos. O embaixador alemão, barão Von Treutler e o cônsul em Florianópolis, barão Von Weigenheim, visitaram-no várias vezes em Blumenau.

O pastor Faulhaber dedicou-se muito ao problema da instrução e do ensino religioso em Blumenau. Foi ele quem concretizou a fundação da Associação dos Professores e das comunidades escolares, e a ele devem-se também muitos melhoramentos no prédio da igreja. A construção da igreja de Itoupava Central também foi realização sua. Durante 17 anos ele dedicou todos os seus esforços a comunidade de Blumenau.
O pastor Hermann Faulhaber foi o fundador do “Der Urwaldsbote” e do “Der Christenbote”. Dirigiu durante longos anos a Escola Nova Alemã. Pastor de sua comunidade, zeloso e ativo, professor enérgico e eficiente, representa, para as escolas de orientação protestante, o que, para as católicas, um Frei Estanislau Schaette. Publicou vários escritos, dentre os quais citaremos o “Leitfaden Fur den unterricht in der Geschichte Von Brasilien” (Manual para o ensino da Historia do Brasil), compilado para as escolas alemãs no Brasil. O livro foi impresso por A. Guthe, em Bremem, e editado pelo autor, em Blumenau, em 1903.
Revela-se o pastor bom manejador da língua alemã. Seu método é claro, sua orientação, objetiva, e sua tendência geral, cumpre dizê-lo, patriótica.

“O ensino da História diz ele na introdução, tem por fim expor ordenadamente a evolução histórica dum povo, através da concatenação de seus acontecimentos mais importantes. Deve esclarecer o pensamento, explicar causas e efeitos, relatar experiências e fatos, apresentar bons exemplos a imitar, e mais a fugir. Assim deverá criar-se um sentimento de nobreza e patriotismo.”
Lembra em seguida o grande numero de escolas particulares alemãs existentes no Brasil, e como, por experiência, os cidadãos brasileiros de língua alemã acompanham com muito interesse a evolução histórica de sua nova pátria.

Escrevendo uma historia do Brasil, em alemão, é de supor que o autor se inspire no fato pragmático de que a nova geração a que se refere, não conheça, ainda, a língua vernácula, nem tão bem, nem melhor, quanto a que aprenderam dos lábios de sua mãe. Achegados ao colo por essas abençoadas mãos calosas e doidas, que tinham trabalhado na roça, de estrela a estrela, e preparado a refeição, a bruxuleante luz do lampião de querosene, refeição frugalíssima primeiro, e sempre mais farta, e sadia, para dar sadios cidadão à nova pátria. E não tivera, a pobrezinha, ainda, tempo de colher, no chão agreste que cultivara, a decantada flor “inculta e bela”, e passá-la a seus filhos.

E os sentimentos mais nobres, os conceitos mais profundos, os ideais mais puros, as aspirações mais delicadas tão mais clara e penetrantemente, se escutados à língua materna. Baseava-se, pois, nos próprios direitos da natureza a instrução, religiosa, moral e cívica, ministrada às crianças na língua que melhor compreendiam.

“Quem tem um coração para o seu povo, diz o autor, apresenta-lhes e a sua mocidade, entusiasmado e entusiasmando, os vultos aureolados dos seus heróis para imita-los, e os lados escuros da história para servir de sábia advertência.”

No dia 29 de Outubro o pastor Hermann Faulhaber casou-se com Alice Baumgarten, este casamento foi abençoado com três filhos: Roland, Ruth e Joana. Ruth e Joana permaneceram em Blumenau e Roland desapareceu na Alemanha na grande guerra, mas antes do desaparecimento foi prefeito de Berlin.
Faulhaber adquiriu a tipografia que servia para a publicação do “Imigrant”, o 1º veio a tona em 16 de julho de1893. Ditara a iniciativa de Faulhaber de fundar o jornal, o desejo de fazer uma folha que servisse aos interesses religiosos de Blumenau. Ele havia previsto o nome de “Friedensbote” (Mensageiro da Paz), mas não conseguiu tipos grandes para o cabeçalho, ficando então com o titulo antigo “Der Imigrant”.

Escreveu reportagens e artigos para jornais locais e da Alemanha, traduziu a obra de Afonso Celso “Porque me ufano do meu pais” (Warum bom ich Stolz auf mein Vaterland). Escreveu ainda “Die Hochwasserkatastrophe in Blumenau” e o “Ratgeber für Auswanderer”, folheto nº 4 da Associação geral Evangélica de Witzenhausen, no rio Wistula.

No dia 25 de Julho de 1906 comunicou aos dirigentes da comunidade sua remoção para Alemanha. Já na Europa, durante os anos que trabalhou em Trebbin, onde foi pastor, sempre honrou e estimou o Brasil, principalmente Blumenau, do qual ele jamais se esqueceu. Fez conferências com projeções luminosas para assegurar fundos de auxilio às vitimas das enchentes de 1911.

Era seguidamente convidado pela Sociedade Teuto Sulamericana de Berlin para as recepções aos brasileiros ilustres que visitavam a capital do Reich. Alguns deles chegaram a visitar a sua paróquia de Thebbin que ficava próxima a Berlin. Nessa ocasião ele hasteava, na fachada de sua casa paroquial a Bandeira Brasileira. O mesmo acontecia quando durante a guerra de 1914/1918, quando os exércitos alemães conseguiam alguma vitória, quando então, as duas bandeiras, a alemã e a nossa, planejavam diante da casa paroquial. Teve que suspender esse costume com a entrada do Brasil na guerra ao lado dos aliados. Assinava dois grandes jornais do Rio, que lia com grande interesse, sempre os recebia com viva satisfação, mesmo dois dias antes da sua morte, quando lhe trouxeram os jornais que acabavam de chegar do Rio não pode esconder satisfação, apesar da grande fraqueza em que se encontrava, sempre manifestara desejos de retornar ao Brasil.

O pastor Hermann Faulhaber faleceu em Trebin na Alemanha dia 19 de fevereiro de 1920 e sua esposa Alice faleceu em Berlin dia 11 de novembro de 1946. Blumenau homenageou este grande pastor denominando uma escola municipal com seu nome, Escola Básica Municipal pastor Faulhaber. Ele que além de pastor foi educador. A escola situa-se na Rua Pastor Oswaldo Hesse, 1090 e conta hoje (2007) com aproximadamente 200 alunos, 16 professores e 8 funcionários, divididos em 2 turnos. Sob a direção da professora Célia Cecília Krepsky.





FREI ODORICO DURIEUX

"Jamais! Nunca uma pessoa será imortal. Podemos ter o título, mas será só um título. Pra que vale um título de imortal? Título é começo de história, é o cheiro de bolo saindo do fogo, é o miau do leão, é o rotulo que chama atenção, é o primeiro capítulo da novela.

Pra muita gente um título pode simbolizar ter o ego sublinhado, enfeitar com aspas a vaidade, e até mesmo esfarelar uma purpurinazinha na alma. Eu tenho pena dessas pessoas. Elas marcam presença nas livrarias da vida, mas escolhem seus livros pelo nome pomposo do autor, pela capa imponente, pelo título. Título? O que seriam dos livros se se resumissem aos títulos? É o conteúdo que faz a diferença. Esse sim pode ser chamado de imortal. Imortais são gestos, ações, atitudes, palavras. Imortal é o que semeamos na vida para alguém colher mais tarde.

Todos nós aqui presentes somos convidados a estrelar como atores principais de nossas próprias vidas. Será que não estamos sendo coadjuvantes? Será que não estamos muito preocupados com os títulos e esquecendo do nosso conteúdo? Estamos folheando ou escrevendo o livro de nossas vidas? Todo mundo tem duas opções: ou vive para acontecer e deixar marcas que podem se tornar imortais, ou vive para morrer. É muito mais fácil viver para morrer! E dá pra usar o mesmo título do berço à lapide!

Senhoras e Senhores! Boa Noite!

Tudo bem que meu traseiro é grande, mas quero convidar cada um de vocês a também ocupar a cadeira número XVII. Vamos fazer desse assento um trampolim da oratória, da valorização da última flor do Lácio, da eloqüência da boa cultura e do cultivo constante da ética, da visão crítica e da cidadania. Nunca me sentiria preparado a ocupar a cadeira de um patrono tão importante – um nacionalista incondicional – sozinho. Por isso, quero desafiar todos vocês a exercitarem diariamente os princípios do frade franciscano Odorico Durieux.

Um sábio que há quase meio século previu que em tempos modernos não teria sucesso quem não dominasse a língua portuguesa e a retórica. Desde à tarde de Santo Antônio de 1959 ele tornou seus gestos imortais. Fundou a Academia de Mont’Alverne, um centro de lídima cultura que prepara jovens alunos do Colégio Franciscano Santo Antônio a exercer técnicas de retórica, liderança e espírito crítico. Frei Odorico – exímio orador e profundo conhecedor da língua portuguesa - tinha certeza que essas eram obrigações da escola. E cá entre nós, ele tinha pavor das pronúncias dos muitos alunos descendentes de alemães. Não conseguia sossegar com o “r” de “caroça” e os “rr” de “parrede”.

Frei Odorico nos deixou em 1997 e até hoje sua academia lapida jovens para os desafios de tempos futuros. De lá, saíram grande parte dos homens e mulheres que hoje nos fazem ter prazer de ser catarinense.

É motivo de grande orgulho e muita responsabilidade passar a ocupar sua cadeira. Mais do que ações imortais, Frei Odorico Durieux nos deixou uma grande certeza que “é só descruzarmos os braços para o que achamos ser sonhos se tornarem realidade”.

Será que não estamos esquecendo nossos sonhos em travesseiros de pena de ganso antialérgicos? Tenho Dito"

(Discurso de Posse de Gustavo Siqueira na Academia de Letras de Blumenau-22/09/2004)





TEXTO SOBRE A PATRONESSE ALICE THIELE

A encantadora paisagem da região onde se situa a nossa elegante “Cidade Jardim” se reveste de arte e símbolos culturais, tecendo e compondo a história blumenauense, consolidando a cadeia de belezas naturais que lhe é peculiar, permitindo que o nosso olhar viaja entre as montanhas, vales, rios, flores e florestas, como se fosse um viajar mágico pelo paraíso que se reverencia aos nossos pés. Resultado do semear e plantar raízes, ao que se propuseram os fundadores vindos da Europa, movidos pela garra, coragem e determinação, registrando sua chegada na Curva do Rio e dela fizeram o ponto de partida para uma nova vida.
Assim se inicia o que nós denominamos “história” de tantas e muitas pessoas (imigrantes) que garimparam vida, perscrutaram novos horizontes e através do amor outras vidas somaram-se, proles multiplicaram-se e fazia-se necessário doutrinar, educar para que o progresso fosse possível.

Alice Thiele, foi uma das pessoas agraciadas com o Berço denominado Blumenau. Cidade que começara a “germinar”, esculpida entre montanhas, nascentes, fontes, flores e relevos, ocultando a magia de uma bela história a ser contada no futuro. História que encanta, igual a da menina Alice, que nasceu e cresceu acompanhando o desenvolvimento desta maravilhosa “Cidade Jardim”. E Alice teve a chance de “edificar” sua história no dia a dia, interligando pontes do passado, presente e futuro, semeando atos, ações, sabedoria, educação, doação e se fez ser Educadora, Professora, Mestra.

Os arquivos históricos de Blumenau não registraram muitas informações sobre Alice Thiele, porém, o pouco que encontrei é altamente significativo, notório, e merece ser colocado em evidência, merece destaque pela proeminência, pela relevância para nossa sociedade. Talvez as grandes enchentes que assolaram nossa cidade, arrastaram grande parte do que Alice havia registrado, mas não conseguiu apagar as “pegadas” em chão firme por ela trilhado.

Creio que há tantos anos passados, Alice projetou sua visão para o futuro com intuito de fazer com que a cultura, de um modo geral, não adormecesse lentamente, que jamais viesse a cochilar e se perder neste berço esplêndido.
Ela deixou seu legado e hoje é carinhosamente lembrada, com gratidão pelo muito e tudo que fez por Blumenau e porque não dizer: Belo bem da Nação!

Alice nasceu em 1º de janeiro de 1881, nesta cidade, Blumenau - SC, onde viveu até o final de seus dias.
Blumenau sempre soube abrir as asas acolhedoras e conseqüentemente foi agraciada com a vinda de pessoas ilustres, sábias, resignadas nas atitudes e guerreiras nas ações, marcando presença, traçando caminhos, contribuindo na “arte de pintar” este belo “cartão de visita”, simplesmente: Blumenau.

Alice contribuiu com maestria e firme propósito de enriquecer a literatura, zelando para que a cultura não caísse no cochilo. Sem medir esforços, doou parte de sua vida prol arte de ensinar e a fez ser lembrada através dos tempos, tornando-se uma “NOBRE IMORTAL”.

A menina Alice era filha de Hugo Riedel e Ana Riedel. Quis o destino que ela fosse a neta do primeiro Pastor Evangélico de Blumenau, Rev. Pastor Oswaldo Hesse (fato digno de nota), que aqui chegou em 1858, onde se radicou, professando a fé por longos anos, vindo a falecer aqui mesmo, em Blumenau. Também ele está sendo lembrado até os dias atuais, pois Blumenau tem em sua malha viária uma Rua com o nome dele: Rua Pastor Oswaldo Hesse.

Alice é lembrada pelos atos heróicos, bravura, dedicação, pelo contínuo escalar degraus, rumo à arte de ensinar, doando fragmentos de sabedoria.

Passou a chamar-se, Alice Thiele ao casar-se com Alfredo Thiele, porém, quis o destino que viesse mais tarde a enviuvar, quando decidiu prestar exame para ser professora de Escolas Isoladas, exercendo o magistério durante muitos anos (aproximadamente, vinte anos) na “Escola Nossa”, que mais tarde passou a ser “Escola Alemã” e esta mesma escola ainda existe nos dias atuais, denominada Colégio Normal Pedro II, referência para a sociedade blumenauense. Professora Alice lecionou por muitos anos a língua portuguesa e alemã, neste mesmo estabelecimento, nos 1º e 2º anos preliminares. Professora Alice Thiele, era uma Dama de muitas virtudes, com extrema dedicação ao que fazia, doando fragmentos de sua vida à difícil trajetória do magistério, missão esta, da qual não se deixava desviar.

A arte de ensinar fazia parte de sua vida, até que, por volta de 1935 ou 1936 (aproximadamente - na década de 1930) foi acometida por uma doença (não relatada), motivo pelo qual, foi aposentada.
Quando veio a falecer, no dia 12 de abril de 1952, em Blumenau, deixou uma profunda lacuna na sociedade blumenauense, sua ausência foi marcante para os que a conheceram, porém, inesquecível e Imortal.
Blumenau lembra o nome da Professora Alice Thiele de muitas formas, mas uma delas é em especial gratificante, pois há uma Escola denominada: Escola Básica Municipal ALICE THIELE e que abriga mais de seiscentos alunos, atualmente. Doce lembrança, grata “herança”.

Alice nasceu para ser Imortal, cumpriu sua missão de cidadã, motivo pelo qual o destino traçou trilhas que levaram seu nome até à Academia de Letras Blumenauense - ALB, onde em 29 de setembro de 2005, eu, Ilka Bosse, tive a grande Honra de ser agraciada para ocupar a Cadeira nº XX, à qual foi auferido o nome de Alice Thile, que perdurará através dos tempos e quem sabe, com vários e infinitamente muitos sucessores(as). Honrarei a oportunidade cedida pela Academia de Letras Blumenauense e será eterna minha gratidão à Professora Alice Thiele que manteve a “Tocha da Saberia” acessa, comprometendo-me levar avante a caminhada por ela iniciada. Igualmente serei sempre grata ao Acadêmico, escritor, poeta, dramaturgo, Ivo Hadlich, meu Padrinho e mentor desta minha “festa interna”. Tudo farei, para ser merecedora vitalícia, seguirei com dignidade, mesmo que em passos lentos, fazendo jus a tão nobre missão ao tomar assento ocupando o mesmo lugar (cadeira), Alice e eu, do qual tanto orgulho sinto.

PENSAMENTO:

- Cada um de nós é Deus, na proporção de um grão de areia, que poderá crescer e se tornar um “DESERTO GIGANTESCO”, porém, também poderá crescer e transformar numa linda “DUNA ALVA”, simbolizando a PAZ. (Ilka Bosse)





HERMANN WEEGE

Ele esteve neste planeta como Hermann Weege durante setenta anos. Homem simples, porém tenaz e de múltiplas ações, nasceu numa vila do Distrito de Blumenau, hoje Pomerode. Dotado de excelente visão de negócios, começou vendendo e comprando produtos agrícolas em 1901, logo em seguida criando um abatedouro de suínos. Dez anos após era eleito vereador de Blumenau. Iniciou em 1917 o envio de serpentes ao instituto Butantan para produção de soro-antiofídico, alcançando nesta atividade o 1o lugar do país em 1932. Simultaneamente implantou a Indústria de Lacticínios Weege naquela região, considerada uma das maiores bacias leiteiras do estado de SC. Na coleta do leite agregou à indústria a função de distribuir correspondências, fazendo funcionar a 1a agência de Correios de Pomerode. Não é só isso. Foi reeleito como vereador de Blumenau por mais duas vezes consecutivas de 1919 a 1927, quando lutou vitoriosamente pela construção e manutenção da estrada Blumenau – Pomerode – Jaraguá do Sul. Ainda tem mais: Foi Deputado Estadual de 1927 a 1930. Tem mais ainda: em 1931 construiu com recursos do próprio bolso a 1a linha telefônica BLUMENAU/POMERODE, com sete aparelhos distribuídos na cidade. Ainda não acabou: fundou em 1932 o Zoológico de Pomerode, 1a iniciativa privada do país neste setor e 1o zôo do sul do país. Esta instituição, apesar das dificuldades legais, financeiras e administrativas pelas quais passou ao longo de sua existência é hoje em dia o maior referencial turístico da região de Pomerode, amealhando 92% das intenções de visita à localidade, recebendo em média 120.000 turistas/ano. Além disso, engloba projeto de reprodução em cativeiro de animais nativos em extinção, bem como importante programa de educação ambiental, desenvolvendo principalmente nos jovens a imprescindível conscientização ecológica. HERMANN WEEGE: estrela – 28 de maio de 1877 / cruz – 23 de janeiro de 1947. Como não estar orgulhoso em tê-lo como Patrono na ALB ?

Jairo Martins – poeta / escritor / revisor de textos – 29/09/05.





NEMÉSIA MARGARIDA

Uma cidade, um país, uma nação não se fazem, não se levantam e não são somente ruas, estradas, casas, edifícios, bens materiais. Tal afirmação parece obvia, porém, devemos lembrar e relembrar, cada dia das nossas vidas que existe algo mais além daquilo que nossos imperfeitos olhos enxergam. Muito além das regras inflexíveis e deterministas da economia, muito além desse rio tortuoso que nos leva, existem outras correntes, outras forças que definem a cor da alma humana.

A arte, tantas vezes copiada pela vida, é uma dessas correntes que alimenta o obscuro rio da alma humana. De nada vale toda a riqueza do mundo se nosso espirito não passa de uma casca sem conteúdo, um recipiente oco e sem sentido.

Se paramos para o olhar o mundo, perceberemos que tudo corre a uma velocidade assustadora. Tudo é muito rápido, escapa das nossas mãos; como na realidade virtual: tudo muda de um instante para o outro. Mas a alma humana, essa que permanece silenciosa, é a mesma. Pouco o nada nos separa dos homens que desenharam animais, historias, nas cavernas mal iluminadas dos primórdios da humanidade. Por séculos e séculos, alimentamos as mesmas esperanças, os mesmos temores, os mesmos obscuros e irresistíveis desejos. Morremos e matamos por nada, trememos quando somos enfrentados ao desconhecido, não enxergamos muito além do nosso próprio umbigo.

Por isso hoje, meio século depois de chegar ao mundo, depois de recorrer tantos caminhos, chorar e rir, perder e ganhar, aprendendo sempre, crescendo sempre, sinto-me imensamente feliz por estar aqui, no meio de vocês, numa noite tão especial, na qual reverenciamos às artes e, no meu caso, em especial, à literatura.

E para que escrever se tão poucos leem? Será que não estamos escrevendo na areia, bem naquele local onde minutos depois as ondas apagarão tudo? Esse parece ser o destino, a missão, do escritor. Escrever, escrever, escrever, encher páginas e páginas de palavras, frases, sentimentos, histórias, versos e emoções. Páginas prenhes de amores, violências, fantasias e realidades: páginas cheias de vidas anelando o olhar curioso, atento, que chega para decifrar todos os códigos, para encontrar todas as respostas para perguntas nunca formuladas. Parece loucura, uma divina e maravilhosa loucura. Mas não é. Os escritores, os trovadores, os poetas, os pensadores e tantos outros artistas, também constroem o mundo. Eles fundamentam e provocam revoluções, trazem a paz, iluminam como faróis na escuridão, abrem portas, janelas e caminhos com poucas e simples palavras. Nisso reside a magia da literatura, no seu poder para provocar o estranhamento, para acender a chispa do espirito humano, para numa reação em cadeia arrasadora lançar homens e mulheres por novos caminhos, mundos, realidades.

Nem sempre a sociedade, ofuscada pelos bens materiais, reconhece o valor desses homens e mulheres que se dedicam, de corpo e alma, a mergulhar no inconsciente coletivo, construindo realidades inéditas. Homens e mulheres muitas vezes anônimos, levando sua vida até com penúrias, mas sem desistir jamais, alimentados por um fogo inexplicável, eterno e poderoso. Na maioria das vezes, quando chega o reconhecimento público eles já não estão nesta vida e navegam, iluminados, por outros desconhecidos mares.

Como eles, outra classe esforçada até a abnegação, sofre o desprezo dos seus semelhantes: a dos professores. Sem eles, certamente, nenhuma sociedade poderia ser construída, nenhum país poderia sequer sonhar em progredir, em transformar-se numa nação forte e digna. Mesmo sabendo da sua importância dentro do nosso contexto, eles são maltratados por todos: pais, estudantes, patrões e governo.

Cabe aos professores a árdua missão de ensinar a aprender, de iluminar o mundo e seus mistérios, de ensinar a pensar. Sem o professor, sem o mestre, a maioria não sairia dos balbucios e se transformariam em lamentáveis homens, apenas diferenciados dos animais. Vemos poucas estatuas nas praças, nos colégios, nas universidades, nas ruas das cidades, lembrando ou homenageando aos professores.

Por esse motivo quero erigir, nesta noite, uma estatua espiritual, aos professores da minha, das nossas vidas, e, em especial, a uma que iluminará com sua historia meu caminhar na Academia Blumenaense de Letras: a minha patrona Nemésia Margarida.

Nemésia Margarida que passou por este mundo no século passado, semeou e talvez não colheu tudo aquilo que plantou. Ela formou-se em 1922 no então denominado Grupo Escolar Luiz Delfino. No dia 29 de agosto de 1936 passou a exercer o cargo de adjunta da Escola Mista do Salto Norte. Lecionou, também, como professora pública municipal na Escola do Bairro da Velha.

A pesar de que uma Escola Básica Municipal leva seu nome, poucos conhecem sua história, sua lutas, suas esperanças, os sonhos que alimentou, os sonhos que se transformaram em realidade. Desconhecemos a maior parte da sua vida e obra e sem dúvida isso é algo que não pode ser perdoado. Não podemos condenar ao esquecimento os homens e mulheres que edificaram nosso presente.

Que Deus nos ilumine e abra nossos olhos para aquilo que realmente importa.





MARTINHO BRUNING

Biografia do Patrono Martinho Bruning

“ Todos são necessários para formar o todo. Onde estamos é apenas o começo desde o princípio. Não importa o que foi dito antes. Importa o que será dito depois. Importa o que foi dito antes... agora.” Palavras sábias de Martinho que além de poeta foi um homem de meditação. Um homem transcendental.
Nosso querido e imortal poeta nasceu no ano de 1921 em Tubarão/SC Formou-se em Filosofia Pura pela PUC, de Porto Alegre, mas residiu muitos anos em Blumenau, onde sempre sentiu-se em casa. A dedicação à poesia só aconteceu na década de 70, após a aposentadoria no serviço público federal. Martinho Bruning se especializou em hai-kais este misterioso poema de origem oriental. Publicou diversos livros, buscando sempre a harmonia, a simplicidade, a poesia delicada dos hai kais. Dizia: "um hai-kai deve ter no máximo 17 sílabas para fundar-se como obra de arte literária concisa; mais que isso perde a essência oriental..."

Duas, três palavras,
melhor, nenhuma palavra:
os pássaros cantam.
Negócios demais.
Fito as montanhas e o céu
- irrepreensíveis.
Ele era de uma profundidade infinita.
Ouçam o que ele escreveu sobre a lapidação:
Corrigir os outros? E quem lapidaria você?

Martinho soube como ninguém dizer as coisas certas da maneira certa. E com aquela sabedoria que enriquece a alma humana nos pediu para escutar a natureza:
“Escuta! Nas pedras a música do rio.” E acrescenta: “Ninguém ouve duas vezes a mesma música do rio. Só dura o que passa o rio dessa música.”
E, nós, muitas vezes não escutamos a música do rio afogados que estamos no burburinho do tempo.
Martinho Bruning, não. Ele sabia que o tempo era indomável, brincava com ele. Fazia versos. “E.. Um belo dia, dizem tudo acaba. Como sabem que será um belo dia.”

Infelizmente, este belo dia para o poeta chegou. Martinho Brüning partiu no dia 5 de janeiro de 1998 . Deixou esposa, cinco filhos, genros, noras e 11 netos, órfãos de seus poemas, hai-cais e doutrinas de filosofia oriental, Martinho sempre reservava espaço para os familiares, há muitas palavras de amor para a esposa Julieta em seus livros . Na solenidade de lançamento, o poeta amoroso, sempre entregava um exemplar com uma dedicatória carinhosa à esposa amada. O poeta, consciente da dificuldade de se conseguir apoio para publicar livros, editou e pagou a impressão de cada uma de suas obras. Obras que elevam, enternecem e encantam. Obras que posteriormente foram doadas pela família às bibliotecas das principais Universidades de Santa Catarina e escolas de Blumenau. O poeta sabia transformar uma observação num poema completo.

Dizia que “Um poema deve ser claro e obscuro como o canto de um grilo.”

Coisa mais singela o cantar de um grilo! Traz apelos do eterno. Martinho soube ouvi-los assim como ouviu o rio. Se Heitor Villa Lobos na opinião de Martinho fez a música maior que todos os ruídos, Martinho fez a poesia maior que todos os poemas. Mas ele próprio não se julgava escritor. “ Não sou escritor. Sou poeta. Agora já não sei se sou poeta. Escreveu também que “o poeta não julga ninguém. A poesia nos julga a todos.” E registrou:

“Aprendendo a aprender venho e vou de mãos vazias.” Coisa mais bela, mais profunda!! Ir e vir de mãos vazias. Pronto para aprender. Despojado do que julgava ser e saber. E aconselha:

“É preciso escrever na areia
Para que o vento espalhe o canto.
Eu quero como Martinho mais do que “escrever ou ler, quero inscrever no coração algumas palavras essenciais”.

O que é essencial?
Talvez já não saibamos perceber as coisas essenciais. Precisamos como Martinho esvaziar-nos de nossos saberes para aprender e fazer da oração do poeta a nossa oração:

“Tem, Senhor, paciência comigo,
Que eu mesmo tenha paciência comigo,
Que os outros tenham paciência comigo,
E que eu tenha paciência com todos.
Quando for pesado o mundo
E eu leve
- paciência;
Quando for o mundo leve
E eu pesado.
- paciência;
Quando ambos, eu e o mundo,
formos pesados
- paciência,
Paciência.”





MAURA DE SENNA PEREIRA

O trabalho conta a trajetória profissional e pessoal da primeira jornalista de que se tem registros em Santa Catarina. Através da pesquisa em jornais do início do século passado e consulta a especialistas, o texto revela o nome da mulher precursora no jornalismo do Estado: Maura de Senna Pereira. Ela iniciou a carreira em Florianópolis, escrevendo especialmente, artigos sobre as qualidades e conquistas femininas e a busca dos direitos da mulher. Dirigiu colunas literárias e representou Santa Catarina em diversas situações. Maura defendeu também causas ambientais e escreveu uma série de livros, principalmente de poesias. Foi membro da Academia Catarinense de Letras e, ainda jovem, mudou-se para o Rio de Janeiro, retornando depois disso poucas vezes à capital catarinense.

Tudo começou graças a um empurrãozinho de José Acrísio, redator, em 1923, de um dos mais importantes jornais da capital catarinense. Ele desafiou publicamente as mulheres a escreverem na imprensa de Florianópolis. A resposta ao desafio chegou à redação de O Elegante poucos dias depois, e a responsável foi Maura de Senna Pereira, pseudônimo: Alba Lygia. Em pouco tempo, o nome verdadeiro foi descoberto, e Santa Catarina conhecia aquela que viria a ser a primeira jornalista do Estado de fato.

Uma mulher à frente do seu tempo, assim foi Maura de Senna Pereira. Ela nasceu em março de 1904, aprendeu a ler antes mesmo de frequentar a escola; e aos 19 anos, com a morte do pai e de um de seus irmãos, teve que trabalhar para sustentar a família de 10 pessoas. Foi nesse momento que Maura assumiu sua primeira profissão, a de professora. Mas essa ocupação seria apenas para garantir a renda da família porque desde o primeiro artigo para O Elegante, Maura não deixaria mais de escrever.
O roteiro pela imprensa catarinense

Presbiteriana, a jornalista exerce, em 1924, a presidência da Sociedade Auxiliadora dos Moços, e escreve para o jornal O Atalaia, ambos ligados à Igreja Católica. Sua primeira participação expressiva na imprensa será, no entanto, no mesmo O Elegante de seu artigo precursor. Ela retoma sua vocação para o pioneirismo e escreve em 31 de março de 1925 aquele que viria a ser o primeiro artigo feminista publicado em Santa Catarina: “Volvamos nossas vistas para o porvir”. Ele será parte de uma série publicada na seção “Feminismo”, da qual Maura tornou-se responsável.

“Nesses últimos tempos, com especialidade, muito se há pregado uma profissão para a mulher. Que ela se não dedique exclusivamente – á aprendizagem de encargos domésticos e prendas essencialmente feminis. E o que é mais: que não viva unicamente a cuidar de si, para aparecer bem, bem mascarada, á força de rouge, carmin e crayon, vivendo a vida material das futilidades e do coquetismo, das mentiras de salão, cuidando das modas e de flirt, em busca do marido rico, de invejável posição social, a quem levianamente entregará o coração e a vida, sem a menor reflexão, quase sempre sem amor, e que lhe assegurará a mesma existência cômoda e chic. (...)”

No próximo ano, ela passa a escrever a coluna “À la garçonne”, do jornal florianopolitano Folha Nova. “Nela,Maura traçava perfis de senhoras e senhoritas da elite catarinense, não dentro dos padrões da época, mas mostrando sua importância pelas atividades que desenvolvem”. Porém, sua participação mais duradoura na imprensa de Florianópolis da época, será no jornal República, onde escreveria por sete anos. Em maio de 1931, seu nome apareceria no expediente do jornal entre os principais redatores. A partir de então, Maura tornou-se responsável pela página “Domingo Literário”, publicada semanalmente. Na seção, seu nome figura como diretora geral, sempre no topo da página, emoldurada e decorada. Em um período em que a comunicação entre Florianópolis e os outros centros culturais é escassa, Maura traz para a capital catarinense poemas e artigos de autores de outros estados brasileiros, e até mesmo, de fora do país.

Lauro Junkes, escritor e presidente da Academia Catarinense de Letras – da qual Maura fez parte graças a seu jornalismo engajado, e presença intelectual marcante na vida social de Florianópolis – diz que a maior contribuição da escritora foi conseguir a projeção da mulher em uma atividade predominantemente masculina. “Maura foi uma mulher de espírito avançado em tudo”, completa Junkes.

As bandeiras

As principais lutas de Maura eram relacionadas às mulheres. Ela defendeu incessantemente o direito da mulher ocupar novos espaços na sociedade – de não ficarem restritas à esfera do lar –, o direito ao divórcio e ao voto feminino. “Para Maura a educação seria o meio das mulheres conseguirem ficar em posição de igualdade com os homens”.

No que diz respeito ao divórcio, a jornalista sentiu na pele o preconceito da sociedade da época. Aos 27 anos, casou-se pela primeira vez e foi morar no Rio Grande do Sul, terra-natal do seu então marido. Frustrada, ela rompe o casamento e volta para Florianópolis. Não permanece na Ilha nem por um ano, não havia espaço para mulheres separadas, muito menos no meio público.

Um exemplo de mulher para Maura, e tema recorrente de seus artigos, foi Anita Garibaldi. A jornalista destaca, além do heroísmo de Anita; a mulher que não se conforma com os papéis já estabelecidos pela sociedade e assume novas posturas. Apesar de ressaltar essas qualidades, ela faz questão de citar os atributos da heroína ditos femininos, já que eram esses os respeitados pela sociedade. “Pode-se dizer que Maura foi uma feminista possível para a época, porque uma pessoa, por mais que inove, nunca está totalmente desligada de seu contexto”, explica Junkes.

Além de defender causas feministas que somente mais tarde as militantes começariam a reivindicar, a jornalista também prenunciou uma consciência ecológica que surgiu apenas nas últimas décadas do século passado.

Rio de Janeiro, a terra adotada

Depois da separação do primeiro marido,Maura vai morar no Rio de Janeiro, cidade onde viverá até o fim da vida e encontrará – como ela mesmo descreve em poemas – o verdadeiro amor.Maura conhece o escritor José Coelho de Almeida Cousin, poeta mineiro de quem já havia publicado textos na seção “Domingo Literário”, do jornal República, de Florianópolis. Em 1942, Maura passa a viver com o escritor e desperta mais fortemente para a poesia. A partir de então, ela torna-se novamente pioneira: passa a abordar o aspecto sexual das mulheres em seus textos.

Na imprensa carioca,Maura trabalhou em diversos jornais e revistas. Entre eles, A Noite, A Manhã e Vida. A impossibilidade de ter filhos fez com que se interessasse por alguns temas relacionados ao assunto. Em A Noite, por exemplo, a jornalista publica várias reportagens sobre o parto sem dor, realizadas na maternidade Clara Basbaum. Em 1957, a série torna-se livro e um fenômeno de vendas na Feira de Livros realizada naquele ano, no Rio de Janeiro. No jornal A Manhã, Maura escreve ainda inúmeras reportagens sobre fecundidade, esterilidade e terapêutica psiquiátrica.

No entanto, sua colaboração mais duradoura na imprensa carioca seria no jornal Gazeta de Notícias. Primeiro, como criadora e responsável pelo suplemento “Mulher” que inicia em 1950. Mais tarde, como editora das colunas “Casa de Boneca” e “Nós e o Mundo”.

Depois da mudança e união com Cousin, Maura retorna poucas vezes à Florianópolis, muitas delas para participar de eventos públicos e representar, como no período em que morou na sua terra-natal, a mulher catarinense. Maura de Senna Pereira a mulher que abriu portas para as novas jornalistas e questionou valores enraizados na sociedade, morre no Rio de Janeiro, aos 88 anos, deixando saudades ao mundo jornalístico e literário.

A veia poética acompanhou Maura de Senna Pereira em toda sua vida. É reconhecida por grandes escritores e está expressa em diversos livros. Carlos Drummond de Andrade avaliou sua poesia como de “alta meditação existencial”. Jorge Amado classificou seus versos como “densos e fortes”.

Seu primeiro livro foi Cântaro de Ternura, publicado em 1931; seguido de Poemas do Meio-Dia de 1949, e Círculo Sexto (1959). País de Rosamor, de 1962, é considerado pelos críticos, uma de suas principais obras e representa uma síntese do pensamento da escritora. Nele, Maura propõe um novo mundo, de uma sociedade igualitária, socialmente justa e em harmonia com a natureza. Em 1980, a autora escreve Despoemas, um livro de apenas 23 páginas; seguido de Cantiga de Amiga, editado em 1981. Poemas-Estórias, de 1984, é um misto de poesia, conto, fábula narrativa e fábula poética. Seus últimos livros –7 Poemas de Amor e Busco a Palavra – foram publicados em 1985, sete anos antes de sua morte.